Cada vez me confronto mais, e confronto mais a ideia do terapeuta como um ser perfeito, ou ao menos "melhor do que"... Como se alguém fosse melhor do que alguém, e houvessem na terra seres perfeitos. Anjos não são de carne e osso. Ser de carne e osso é ser imperfeito, é ter falhas, é errar... e quando aceitamos isso, percebemos que somos exactamente perfeitos tal como somos, nesta rota de evolução e crescimento.
Normalmente o terapeuta é ou aparenta ser uma pessoa calma, tranquila, optimista, estável, perspicaz, equilibrada... bem... na verdade.. pelo menos falando por mim... o que acontece é que eu pratico yoga, meditação, reiki, recebo massagens, toco as taças.. e isso ajuda (e muito) a ser um pouco mais todas as coisas que aparentemente parece que sou.
Mas mesmo com todas estas práticas, há muitos aspectos que ainda não consegui melhorar.
Acreditar que o terapeuta é mais do que, é cair num erro grande que prejudica tanto paciente quanto terapeuta, estabelecendo uma relação desigual, e perpetuando o engano de que só somos gente se... se não fizermos isto ou aquilo, ou se fizermos aquilo ou o outro. O terapeuta vê o ego insuflado, e acredita-se superior.. e quando o universo lhe mostra que não é, através das experiências de vida concretas.. vergonha e culpa. E o paciente resume-se a um papel de menor, não vendo o seu brilho próprio e muitas vezes assumindo como modelo uma imagem que existe apenas na sua imaginação.
É urgente aceitarmos a nossa sombra. É urgente amar-mo-nos exactamente como somos.
Quando aceitamos e amamos a totalidade do que somos, permitimos que a nossa luz verdadeira brilhe. Não temos que ser nada ou alcançar nada para nos amarmos.
Quando duas pessoas se cruzam numa relação terapeutica, é mera formalidade que um esteja como curador e outro como ser a curar. Na verdade, a cura é para os 2, e através do terapeuta passa uma energia que não é do terapeuta, nem é o terapeuta como pessoa, mas é energia de cura universal que actua através daquele ser.
É uma honra sentir a energia de cura a actuar, mas é um erro identificarmo-nos com a pessoa que somos durante um processo de cura.
Durante anos tive vergonha de dizer que era terapeuta porque não me achava digna do rótulo. Quando os trabalhos apareciam, não os recusava, adoro o que faço e pensava se veio até mim.. aceito.. mas não vou procurar.. não sou digna. Aos poucos fui percebendo que ser terapeuta era a minha profissão, porque aos poucos mais e mais trabalho aparecia.. mas quando me perguntavam qual era a minha profissão.. hum.. bem.. trabalho na área terapeutica. Hoje sinto que tenho isto muito mais desbloqueado, e luto diariamente para não me envergonhar dos meus muitos defeitos mas, aceitando-os, procuro fazer melhor. E descubro que funciona muito melhor aceitar para melhorar.. do que tentar à força melhorar para depois me aceitar.
Tânia Faísca
foto: Theo Kaufman