Relaxar é importante

A maior prenda que podemos dar a nós mesmos é a oportunidade de relaxar. A capacidade de relaxar existe dentro de cada um de nós, e não requer de nada senão a oportunidade. 
Quando relaxamos em profundidade obtemos contacto com a felicidade mais plena, que é a tranquilidade da presença de nós a nós mesmos, em que silenciosamente descobrimos a força espiritual que tudo habita, tudo trespassa.
Sinto que vivemos tão ocupados, que perdemos o contacto com esta capacidade inata, e recuperá-la é um estado de urgência.
Porque perdemos esta capacidade, vivemos insatisfeitos, com uma permanente sensação de falta que tentamos preencher com coisas, ocupações, distracções, entretenimentos, diversões, experiências (ou então na lassidão do sofá, a babar em frente à televisão - o que está longe de nos dar a qualidade de relaxamento de que o nosso organismo precisa e é um substituto não só pobre, mas podre mesmo, com bicho dentro decorado a brilho por fora)...
Sinto que quanto mais nos ocupamos ou mais adquirimos, mais nos afastamos de recuperar esta potencialidade vital à qualidade de vida mais básica do ser humano.
Estou grata por em cada dia que passa me poder conceder tempo a sós, calma e tranquila na presença de mim a mim... e de mim ao universo. 
Às vezes as pessoas perguntam-me o que tenho feito... confesso que fico sempre meio embaraçada... tenho feito o quê? sei lá.. um pouco disto, um pouco daquilo...mas essencialmente sabem que mais? tenho vivido. A vida não é as coisas que fazemos... Parece-me que tenho feito muito pouco... mas vivido muito. E embora às vezes ache que podia aprender mais, ler mais, trabalhar mais, escrever mais, iniciar este e aquele projecto... encontro inspiração no ditado chinês que diz que 1 dia sem ocupações tem o sabor da eternidade, e na sondagem que fizeram um dia a pessoas perto do leito de morte em que se perguntava o que teriam feito diferente. Em n.º 1 estava... trabalhado menos. Dá que pensar não?
Não quero fazer um hino à preguiça, relaxamento não é preguiça. Relaxar é um trabalho árduo de despir camadas de tensão acumulada no corpo e na mente, um trabalho árduo de nos reconduzir ao ponto zero, ao equilíbrio a todos os níveis do nosso ser. 
Relaxar é uma refinada arte.
E existe bem dentro de nós esta capacidade de realizar esta arte, de realizar este árduo trabalho. Está aí ao nosso alcance. Basta que nos concedamos a nós mesmos a oportunidade de manifestar em corpo, mente e vida, essa sabedoria inata de relaxar.
Tânia Faísca




foto: Julien Wieser, Sessão de Relaxamento com Taças Tibetanas, no Festival Andanças de 2014